Alberto Torres e sua obra

do país, tais estudos se afiguravam meras construções abstratas de engenhosa ideologia, surtos de imaginação arbitrária, sem praticabilidade e sem correspondência com as realidades nacionais.

As realidades para os políticos daquela geração não iam além do horizonte visual dos redutos de um patriciado parasitário e feliz, que as confundia egoisticamente com os interesses das clientelas, que davam a expressão única e ilusória da sua força.

Muito mais do que ser incompreendido, afligia a Alberto Torres a dúvida de ser malcompreendido. Ele, que possuía a dignidade das ideias, atormentava-se em supor que elas pudessem um dia ser aproveitadas viciadamente, em parte, desarticuladas do seu todo, deformadas na cunhagem de ideias medíocres, de fácil comércio, lançadas em curso forçado para uso das pequenas inteligências — essas pequenas inteligências que têm sido sempre um ativo fator de desorientação.

No Brasil um homem de pensamento é um personagem trágico. Ante os seus anseios — o espetáculo de uma mentalidade despoliciada, sem disciplina, confusa e hesitante, sem sinceridade nas direções e probidade nas preferências — a desordem finalmente na vida do espírito - a confusão na vida do sentimento.

Pensar num meio assim, sabendo-lhe a desconformidade angustiante, relapso o senso de julgamento, arbitrária e caprichosa a aferição dos valores; pensar num meio assim desorientado, em que se estimulam facilmente as formas mais hediondas do arrivismo, as improvisações mais audazes e as intrujices mais cínicas, em que à expressão da cultura se contrapõe o farisaísmo da pedanteria oportunista e ao saber desinteressado as simulações perigosas, em que tudo se nivela e se anula, em que os pensadores de verdade e os rábulas das ideias, os charlatães de Estado e os construtores de nacionalidade, todos, lado a lado, se confundem no mesmo plano simplificador da história, deveria ter sido

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