O idealismo da Constituição

homens; a situação, o mundo — e não o país; os habitantes, as gerações futuras — e não as atuais".

Os espíritos, porém, para os quais a realidade social existe; que consideram os grupos humanos criações naturais, tão naturais como um animal ou uma planta, com estrutura e dinamismo próprios; que pensam, como Waldeck-Rousseau, que "a sociedade não é uma obra de convenção"; para estes espíritos esses cento e tantos anos de experiência democrática no Brasil têm um sentido muito diverso: valem como uma mina de valor inestimável, rica do mais puro minério informativo. De mim, digo que só sei trabalhar nesta jazida; que só me sinto bem quando manejo os instrumentos da investigação para explorar os seus vieiros e extrair, grânulo a grânulo, o metal perdido nas rudezas dos seus filões.

De Berzelius disse Ostwald — "que construía eternidades com grãos de areia". Das nossas novas gerações, que agora se vão preocupando com os problemas da organização do Estado Nacional, poderíamos dizer o mesmo: é com a soma dos pequeninos grãos de verdade, colhidos nas jazidas da nossa experiência social, que elas hão de construir as eternidades da nossa estrutura política. O que as gerações anteriores têm arquitetado até agora, com materiais vindos de fora, não tem mostrado possuir condições de eternidade: são sempre, como se tem visto, criações de natureza perecível e transitória.

Das construções democráticas levantadas em nosso país — desde a Constituição Imperial de 1824 à Constituição

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