O idealismo da Constituição

I Império, por toda a Regência e, como já observamos, vai até aos primeiros decênios do II Império — era constituída de um grupo de homens, cuja formação mental como que os condenava (na sua maioria) a serem nada mais do que idealistas utópicos: porque educados fora do país, com uma cultura toda aprendida nas cátedras tradicionais e veneráveis da histórica Universidade de Coimbra. Não há uma só das grandes figuras dessa geração que não se houvesse formado nesse grande centro universitário. É o grupo dos Andradas. É Vasconcellos, é Monte Alegre, é Cairu, é Caravellas. São Olinda, Baependi, Abrantes e tantos outros.

Síntese: a primeira geração, a quem coube lançar as bases da nossa primeira Constituição política, era uma geração que se caracterizava pela origem extranacional da sua cultura.

Esta geração, assim instruída e educada à europeia, mesmo mergulhada no seio da nossa rusticidade tropical e no primitivismo da nossa vida partidária, continuava a pensar e a sentir à europeia. Era (com peregrinas exceções) uma geração de daltonizados, através de cujas retinas, afeitas, pela adaptação, à visão do meio europeu, todas as realidades do nosso povo e do nosso meio tinham que se refletir naturalmente deformadas. Tendo de organizar uma Constituição política para o nosso povo, era natural que não considerassem o nosso povo nas suas peculiaridades essenciais; era natural que procurassem elaborar uma Constituição, objetivando, de preferência, os seus ideais políticos, que não eram outros senão os que

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