com fogo e trumentina, por defensivo; e os mais deles estão bem assombrados: queira Deus que escapem todos, como eu desejo. E hoje nos morreu um, filho de Diogo Lopes Ulhoa, a quem tinham levado um braço.
É de considerar que, demais da grande providencia, que fiz de polvora, balas e corda, a todos os postos e a tão bom tempo, que sobrou tudo, desde o principio da briga mandei deitar um pregão pela cidade, que todos os moradores acudissem com potes de agua à nossa gente, que estava pelejando, e com redes para retirar os mortos e feridos (de que logo foram lá mais de cem) e com panos, fios e ovos ao hospital, a que eles acudiram com tanta pontualidade que, em menos de uma hora, puseram na nossa gente mil potes de agua, com que se refrescaram, e ao hospital com muita cantidade de panos e com mais de duas arrobas de fios feitos e 600 ovos, sendo assim que no mesmo dia me sucedeu mandar comprar quatro, por quatro reales, por toda a cidade e não os achar.
Bem parece tudo obra de Nosso Senhor e prerrogativas dos religiosos regulares e seculares, que de ordinario estão em oração e penitencia, e cinco perdões (?) de meninos, que fazem todas as noites com muita devoção que é um contento.
Hoje tirou o Bispo o Santissimo Sacramento fora em procissão solene [e] lhe andou dando graças com Te Deum laudamus pela cidade, com que a alegrou toda. E sentimos que os inimigos tiveram grande sentimento e obsequias pelas rotas e mortes de tantos, particularmente de um mancebo, gentil homem e bem vestido, com uma cadeia de ouro, que se achou morto, que até agora não sabemos quem é.
Não ha outra cousa de que avisar hoje. Guarde Deus a católica pessoa de Vossa Majestade. Baía, 19 de maio de 1638. — Pedro Cadena de Vilhasanti."