Páginas de história do Brasil

Esta derrota do Conde de Nassau foi a grande humilhação da sua vida. Ele e os seus homens julgavam-se senhores do mar: e do Recôncavo e do Camamu entravam pela calada da noite caravelões atestados de farinha de guerra, dos jesuítas e outros, com que se abastecia a cidade; eles criam-se senhores da terra: e aparecia gado em abundância para sustento dos combatentes: "hoje entraram de socorro mil vacas" (20 de maio). Comove a diligência amorosa com que o povo levava água à gente das trincheiras, como se desencantaram ovos, que todos julgavam que não havia, como se abriam as casas particulares para os feridos, e a gente rica emprestava dinheiro. O padre António Vieira, que estava presente para encarecer esta abundância, não viu comparação melhor do que dizer "que quanto se acha em Lisboa, desde São Paulo até à Confeitaria e Ribeira, assim do Reino como de fora dele: tudo se via aberto e exposto em cada uma das vendas da Baía, sendo tantas".(308) Nota do Autor

O entusiasmo na terra foi extraordinário. Lembravam-se dos vexames de 1624. E agora, estando os holandeses de posse de Pernambuco, a queda da Bahia podia ser fatal para o Brasil. Passada a primeira surpresa e desorientação, nasceu em todos a esperança e ao mesmo tempo o empenho da vitória. O Governador, com um ato de abnegada e meritória prudência, cedeu o comando ao Conde de Bagnuolo e concentraram-se os esforços, sob este comando único, na defesa da Bahia "como cousa mais importante, que dela dependia a conservação da America." (29 de abril).

Com tal espírito de união o triunfo era certo. Nassau, deposto o arreganho com que entrara, retirou-se, quase furtivamente, desaparecendo da costa da Bahia no dia 29 de maio.

Páginas de história do Brasil - Página 237 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra