A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

I

AS MOÇAS DO SOBRADO

Em Santo Amaro, no pátio da igreja, em frente ao histórico templo, ainda há poucos anos podia ser vista e amorosamente considerada pelos espíritos melancólicos, uma construção que, como tudo levava a crer, provinha do tempo da catequese e das bandeiras. Era um sobrado já descambando para tapera e que se erguia entre casas humildes. Todos o conheciam simplesmente como "o sobrado", designação que passara de pais a filhos, através dos séculos.

O teto de duas águas, de telhas portuguesas enegrecidas pelo tempo, estendia largos e ondulados beirais sobre o pátio grosseiramente empedrado, onde as gramíneas se esgueiravam pelas frestas e, não raro, flores do campo abriam pequeninas e delicadas corolas. À sombra desses beirais, nas tardes limpas e claras, meninas de saia rodada brincavam de "tempo será" e negras velhas, de xale pela cabeça, pitavam em pitos de barro, evocando coisas de antanho.

No lance superior do sobrado, havia quatro janelas, duas de rótula e duas de balcão de rótula, o que lhe dava um aspecto de velhice imemorial. Na parte inferior, recortavam-se duas portas de folhas inteiriças, alternadas com duas janelas baixas, de bandeiras tripartidas e escuros largos que abriam para o lado de fora, o que

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