A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

representaria certa ameaça para os transeuntes se naquela época fossem encontradiças diversas pessoas passeando ao mesmo tempo pela mesma rua.

Nesse sobrado, durante muitos anos residiu o capitão Bento José de Salles, casado, em 1749, com a nobre Anna Pontes de Eiró, da família do venerável padre Belchior de Pontes. José de Salles, como foi conhecido durante a vida e mesmo depois da morte, era o que se poderia chamar de "o sossego em pessoa". Entrou para a tradição de Santo Amaro como a flor dos distraídos; a lenda tornou-o herói de umas tantas anedotas, que eram repetidas pelas sestas e serões do povoado.

Contava-se, por exemplo, entre pitadas azuis de cigarro de palha, que, certa vez, a esposa, sentindo os prenúncios de próximo parto, o mandou com urgência à casa da comadre. José de Salles partiu a toda pressa. Ninguém sabe o caminho que tomou nem as voltas que deu, mas quando regressou ao lar, em companhia da curiosa, já era um pouco fora de tempo. O sobrado estava em festa. Gente que entrava e saía. Mesas postas. Toalhas de linho. Cortinas de renda. Mães bentas, quindins, baba de anjo. Que foi? Que foi? Já se tratava do batizado da criança...

José de Salles deixou muitos herdeiros, entre os quais Joaquim Antonio de Mattos, que mantinha dares e tomares com as musas. Esse seu filho varão casou-se, em 1783, com Maria Branca Ribeiro — Mãe Branca para os íntimos — e foi o pai daquelas graciosas nhan-nhans conhecidas como "as moças do sobrado". A propósito... Naquele tempo, quando o sobrenome paterno passava para uma filha, tomava geralmente o gênero feminino. Essa veneranda Mãe Branca assim se chamava por ser filha do capitão Antonio Branco, aliás, Antonio Blanco Ribeiro, que procedia de grada estirpe castelhana.

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