A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

— Ó sol de toucados brancos!

Ele próprio repetia essa frase, nas conversas.

Uma das mais novas entre as moças do sobrado era Maria Angelica, nhá Gequinha, que mais tarde deveria casar-se com um primo viúvo, Francisco Antonio das Chagas, e contar a glória melancólica de ser a mãe de Paulo Eiró, um dos maiores e mais infelizes poetas do nosso passado.

De 1810 a 1830, o sobrado foi um dos encantos de Santo Amaro. No pátio da Igreja, diante do velho templo, ele representava um pouco de animação e festa naquele quadro em que tudo parecia adormecido. Nem sempre o vento da serra murmurava na copa arroxeada das paineiras. Nem sempre as cabras soltas mastigavam miudinho as trepadeiras das cercas. Havia horas em que o pátio, calçado de grandes lájeas chatas, parecia sonhar com a inúbia dos velhos tempos. Os cachorros vadios deitavam-se à sombra dos beirais e quando a faixa de sol lhes alcançava o dorso, viravam-se para o canto, aproveitando o mais que podiam a frescura daquela sombra.

Em frente ao sobrado, na torre da igreja, havia revoadas de andorinhas. Quando, ao escurecer, o sacristão dava as badaladas lentas e graves das Ave-Marias, o céu ficava ressoante de dobres e de asas.

Era voz corrente que por aquele pátio passavam mais rapazes do que se poderia esperar numa localidade de tão escasso movimento. Aos domingos, a missa era muito concorrida. Os devotos vinham de longe, em famílias, em bandos. Como os caminhos fossem maus, faziam o percurso descalços, carregando as botinas na mão. Estudantes da capital, muito adamados, a quem o comadrio chamava de "polcas", iam a cavalo assistir à missa de Santo Amaro. Nem todos, certamente,

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