A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

Té que pendem lindas flores

E alastram, murchas, o chão;

Pejada a vida de dores,

Nos esmaga o coração.



A alma desperta, inquieta:

Vê-se só, põe-se a chorar...

Feliz eu, que sou poeta

E sei lágrimas dourar!



Mas olhai lá no oceano

Como a onda, a erguer-se, ofega,

E, com bravuras de insano,

Na praia se estira, cega.



Lá bate, rebenta e expira:

Alveja a salgada espuma:

Da vaga que ali caíra

Não resta memória alguma.



Assim é também a vida:

Toda em sonhos se evapora,

E, suspensa, a alma duvida

Daquilo mesmo que chora.



Então demanda outra meta,

Gozos busca na vaidade:

Ditoso tu, que és poeta,

Pois te resta a soledade.



Vem meditar junto às ondas,

Com elas te comparar;

Teu semblante não escondas,

Não te pejes de chorar.



Se, qual mortalha alvejante,

Cobre a vaga moribunda

Essa espuma crepitante

Que a areosa praia inunda,



Resta um pranto magoado

Sobre as cinzas da paixão;

Morre, sim, nosso passado,

Sem morrer o coração.

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