Té que pendem lindas flores
E alastram, murchas, o chão;
Pejada a vida de dores,
Nos esmaga o coração.
A alma desperta, inquieta:
Vê-se só, põe-se a chorar...
Feliz eu, que sou poeta
E sei lágrimas dourar!
Mas olhai lá no oceano
Como a onda, a erguer-se, ofega,
E, com bravuras de insano,
Na praia se estira, cega.
Lá bate, rebenta e expira:
Alveja a salgada espuma:
Da vaga que ali caíra
Não resta memória alguma.
Assim é também a vida:
Toda em sonhos se evapora,
E, suspensa, a alma duvida
Daquilo mesmo que chora.
Então demanda outra meta,
Gozos busca na vaidade:
Ditoso tu, que és poeta,
Pois te resta a soledade.
Vem meditar junto às ondas,
Com elas te comparar;
Teu semblante não escondas,
Não te pejes de chorar.
Se, qual mortalha alvejante,
Cobre a vaga moribunda
Essa espuma crepitante
Que a areosa praia inunda,
Resta um pranto magoado
Sobre as cinzas da paixão;
Morre, sim, nosso passado,
Sem morrer o coração.