A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

Outro, cujo ouro atola

Na lama dos bordéis,

Nega a seu pai esmola;

E o povo se degola

Por causa de ouropéis.



Nesta infeliz porfia,

Ao mundo há de chegar

O mormacento dia

Da rápida agonia

Por falta de chorar!



Feliz a alma que habita

Um corpo de mulher

E de mulher bonita!

De amores só palpita,

E chora quanto quer.



À MINHA AFILHADINHA GABRIELA(23) Nota do Prefaciador

(No dia do seu batizado)

Doce alminha infantil, que a luz dourada,

O céu, o mundo observas com enleio,

E, de tua ignorância fatigada,

Dormes, tranquila, no materno seio;



Alma inocente, flor predestinada,

Olha: vês da existência o vaso cheio

Estremecer na mão alvoroçada

Do anjo louro que diz: "Irmã, bebei-o!"?



Que mal, minha pequena Gabriela,

Que desgraça resiste aos esconjuros

Da mãe feliz que o teu bercinho vela?



Aproxima da vida os lábios puros,

Bebe a fartar e bebe sem cautela

Pureza, amor e os júbilos futuros.

Santo Amaro, 18 de Abril de 1859.

A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias  - Página 262 - Thumb Visualização
Formato
Texto