Outro, cujo ouro atola
Na lama dos bordéis,
Nega a seu pai esmola;
E o povo se degola
Por causa de ouropéis.
Nesta infeliz porfia,
Ao mundo há de chegar
O mormacento dia
Da rápida agonia
Por falta de chorar!
Feliz a alma que habita
Um corpo de mulher
E de mulher bonita!
De amores só palpita,
E chora quanto quer.
À MINHA AFILHADINHA GABRIELA(23) Nota do Prefaciador
(No dia do seu batizado)
Doce alminha infantil, que a luz dourada,
O céu, o mundo observas com enleio,
E, de tua ignorância fatigada,
Dormes, tranquila, no materno seio;
Alma inocente, flor predestinada,
Olha: vês da existência o vaso cheio
Estremecer na mão alvoroçada
Do anjo louro que diz: "Irmã, bebei-o!"?
Que mal, minha pequena Gabriela,
Que desgraça resiste aos esconjuros
Da mãe feliz que o teu bercinho vela?
Aproxima da vida os lábios puros,
Bebe a fartar e bebe sem cautela
Pureza, amor e os júbilos futuros.
Santo Amaro, 18 de Abril de 1859.