Se sofre, não disfarça
Nos olhos o pesar:
É nuvem que se esgarça,
E para sobre a sarça,(22) Nota do Prefaciador
Para melhor chorar.
Vê que não te avelhente
As faces, querubim,
O pranto amargo e ardente
De um ânimo doente,
Que me foi dado a mim!
Mesmo este se derrama,
Sem descobri-lo alguém,
Que o mundo vil não ama,
Senão o sangue, e infama
As efusões do bem.
É réprobo maldito
Que desconhece o amor,
Do órfão o seio aflito,
E as sedes de infinito
Que abrasam o cantor.
À fé da mocidade
Chama sonhar febril;
E à sensibilidade
Fraqueza, necedade
De uma alma feminil.
Ai dos que dão-lhe ouvidos
E querem ser dos seus!
Ai dos endurecidos,
Que estancam os gemidos
E as lágrimas de Deus!
O coração caleja,
Ímpio, venal, feroz;
Este da mãe se peja
E talvez morta a veja
Sem que lhe trema a voz.
Aquele (e o cancro inteiro
Um gênio desvendou)
Daria, por dinheiro,
O beijo derradeiro
Da virgem que o adorou.