A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

Se sofre, não disfarça

Nos olhos o pesar:

É nuvem que se esgarça,

E para sobre a sarça,(22) Nota do Prefaciador

Para melhor chorar.



Vê que não te avelhente

As faces, querubim,

O pranto amargo e ardente

De um ânimo doente,

Que me foi dado a mim!



Mesmo este se derrama,

Sem descobri-lo alguém,

Que o mundo vil não ama,

Senão o sangue, e infama

As efusões do bem.



É réprobo maldito

Que desconhece o amor,

Do órfão o seio aflito,

E as sedes de infinito

Que abrasam o cantor.



À fé da mocidade

Chama sonhar febril;

E à sensibilidade

Fraqueza, necedade

De uma alma feminil.



Ai dos que dão-lhe ouvidos

E querem ser dos seus!

Ai dos endurecidos,

Que estancam os gemidos

E as lágrimas de Deus!



O coração caleja,

Ímpio, venal, feroz;

Este da mãe se peja

E talvez morta a veja

Sem que lhe trema a voz.



Aquele (e o cancro inteiro

Um gênio desvendou)

Daria, por dinheiro,

O beijo derradeiro

Da virgem que o adorou.

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