A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

CANTO DE SANGUE(25) Nota do Prefaciador

Cantava assim o piaga,

Ao despedir-se do mundo,

Por noite escura e aziaga,

E com voz de moribundo:

— Tupã, ó Tupã, consente

Que mate esta sede ardente

Que as entranhas me desfaz,

No cadáver que o sol mirra,

No sangue quente que espirra;

Depois... morrerei em paz.



É já tempo! O olhar altivo

Dos guaianazes guerreiros

Segue humilde e pensativo

O rasto dos estrangeiros;

Neste solo sequioso

Tanto sangue generoso

Por sangue há clamado em vão!

É já tempo! A branca ossada

Da geração dizimada

Esteriliza o sertão.



Sangue! Sangue! Lago, rio,

Mar sem praias, mar sem fundo,

Grosso, dormente, sombrio,

Que encubra os bosques do mundo!

Que mel distila a vingança!

Não há mulher, não há dança

Que a vença, não há cauim;

Peçonha, cobra é seu nome,

Incêndio que nos consome

Até no sono sem fim.



Um dia nossas florestas

Cairão sob o machado;

E tu, punhado que restas

De um povo grande e esforçado,

Não terás uma lembrança

Na terra de tua herança!

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