CANTO DE SANGUE(25) Nota do Prefaciador
Cantava assim o piaga,
Ao despedir-se do mundo,
Por noite escura e aziaga,
E com voz de moribundo:
— Tupã, ó Tupã, consente
Que mate esta sede ardente
Que as entranhas me desfaz,
No cadáver que o sol mirra,
No sangue quente que espirra;
Depois... morrerei em paz.
É já tempo! O olhar altivo
Dos guaianazes guerreiros
Segue humilde e pensativo
O rasto dos estrangeiros;
Neste solo sequioso
Tanto sangue generoso
Por sangue há clamado em vão!
É já tempo! A branca ossada
Da geração dizimada
Esteriliza o sertão.
Sangue! Sangue! Lago, rio,
Mar sem praias, mar sem fundo,
Grosso, dormente, sombrio,
Que encubra os bosques do mundo!
Que mel distila a vingança!
Não há mulher, não há dança
Que a vença, não há cauim;
Peçonha, cobra é seu nome,
Incêndio que nos consome
Até no sono sem fim.
Um dia nossas florestas
Cairão sob o machado;
E tu, punhado que restas
De um povo grande e esforçado,
Não terás uma lembrança
Na terra de tua herança!