A vida de Paulo Eiró, seguida de uma coletânea inédita de suas poesias

Mas dignos hemos de ser

Dos pais que por nós esperam:

Como eles morrer souberam,

Nós saberemos morrer!



Nunca hão de os nossos suores

Nutrir alheia cobiça;

Aos mandados dos senhores,

A fronte nunca submissa!

Vivamos co'o arco em punho,

Deixando atroz testemunho,

Ensanguentado troféu,

Aos ossos que este chão cobre;

Somos raça livre e nobre,

Filhos da terra e do céu!



Sirva e trema a casta bruta,

Em pele e coração negra,

Que, escravizada sem luta,

Do emboaba o tédio alegra;

Que, à noite, ri, folga, esquece

Quanto de dia padece.

Para eles fique o feitor,

Fique o trabalho, a tortura;

Para nós, a sepultura

— Terra que não tem senhor!



Era a caça copiosa

Junto à choça em que eu morava;

Era linda a minha esposa,

Quando o filho acalentava.

Ergo-me um dia, contente,

Dou um beijo mais ardente

Na minha pobre Itaé;

Meu filho na rede embalo,

E, para não despertá-lo,

Saio na ponta do pé.



Do bosque chegara ao centro,

Tomando o sol para norte,

Quando senti, na alma dentro,

Ânsias como a ânsia da morte.

— Volta! uma voz me dizia.

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