COATINGA(26) Nota do Prefaciador
Ah! meu suave regato!
Serpeando sem rumor,
Buscas te esconder no mato,
Como a alma cheia de amor.
Rola, rola, e não te queixes
De tua breve extensão:
Não são dourados teus peixes,
Bela a tua solidão?
Não tens águas veementes
Nos campos a se espraiar,
Nem, tragando mil torrentes,
Te precipitas no mar;
Nenhuma preclara Musa
Sedenta saciarás,
Como o nome de Valchiusa,
Nunca teu nome verás.
Que importa, arroio querido?
Nos claros remansos teus,
Se espelha o araçá florido,
Melhor se pintam os céus;
Neles, Véspero parece
Sobre a tarde adormecer,
Qual diamante que empece
Tua linfa de correr.
Como é poética e pura
De teu curso a duração,
Nestes lençóis de verdura,
Nesta amena solidão!
Meu destino vejo inteiro
Com o teu se assemelhar:
Corramos, pois, meu ribeiro,
Corramos sem murmurar.