Viagem de África em o Reino de Daomé

Os dicionários bibliográficos de Inocencio, Sacramento Blake e Pinto de Matos também a desconhecem. O sr. Pedro Calmon, na História da Literatura Baiana, não obstante nos dar a conhecer tantos nomes hoje esquecidos de poetas e prosistas da época colonial, não a julgou merecedora de uma simples referência.

E, no entanto, se a obra do padre setecentista está longe de se poder classificar entre as joias literárias, nem por isso deixa de ser uma peça digna de atenção e certo apreço.

A começar pelo estilo. Em fins do século XVIII o movimento arcádico de reação contra o mau gosto do "cultismo" não atingira ainda os "autores menores" das nossas letras. A linguagem enflorada e bombástica, repleta de comparações despropositadas pela audácia e grandiloquência, pecando contra a propriedade e o senso das proporções, constituía ainda o prato de resistência nos escritores de segunda ordem. Este vezo perdura até nossos dias em certos letrados de meios culturais acanhados, e na maioria dos oradores populares, da Bahia principalmente, mas um pouco de todo o Brasil. Todavia, a prosa de Ferreira Pires, conquanto incorreta, é chã, despretensiosa, e absolutamente isenta da preocupação de impressionar pelo artifício verbal. Só a substância do que narra preocupa o autor. Já não é pequeno mérito. Outra qualidade do padre baiano é o "humor", umas vezes benevolente, outras sarcástico, com que recheia as páginas de comentários aos costumes estranhos ("célebres") dos povos incultos, em cuja companhia estagiou. Não há que fazer transcrições, desnecessárias em vista da obra adiante se transcrever na íntegra; permitimo-nos apenas, por exceção, citar um exemplo.

Certa vez o embaixador D. Carlos de Bragança veio procurar muito triste e lacrimoso os dois padres para contar-lhes que o monarca recém-falecido (Adarunzá VIII),

Viagem de África em o Reino de Daomé - Página 21 - Thumb Visualização
Formato
Texto