à chegada dos enviados portugueses, mandara matar seis negros, três de cada sexo, pertencentes a sua própria família, para que levassem aos antepassados, no mundo dos mortos, a auspiciosa notícia de terem chegado dois embaixadores "padres dos feitiços dos brancos", e uma pessoa dos da sua gente, dos três que ele enviara(5) Nota do Autor; como, porém, no total eram três os recém-chegados, resolvera deles enviar-lhe um, para relatar o sucesso e pretensões dessa embaixada. Ora, como o soberano que fizera a promessa falecera antes de cumpri-la, ele estava certo de que o filho e sucessor não deixaria de executar tão importante compromisso do augusto pai para com os manes de seus maiores.
É de imaginar-se como semelhante notícia deixaria sucumbido o espírito de ambos os súditos portugueses, mas o padre Pires acha jeito, a propósito, de fazer, com um pitoresco jeu de mots, comentário de macabro humorismo:
"Apesar deste aflito nos querer persuadir, que dos três ele havia de ser um dos escolhidos para a catástrofe, bem que combinadas as circunstâncias, por isso "que só nele recairia a sorte em preto", contudo fizemos-lhe companhia no temor, e mesmo seca, e friamente lhe dissemos que, se as coisas corressem de tal maneira, nós empenharíamos todo o valimento (triste valimento) para não se verificar, etc."
As observações sobre os costumes dos bárbaros régulos, suas superstições e crueldades, a velhacaria dos feiticeiros negros, a índole ratoneira das populações africanas, são feitas sempre adequada e inteligentemente. Se a Ferreira Pires faltava a cultura humanística, que constituía a base da instrução do clero do seu tempo, sobrava-lhe algo