feitas, então, em embarcações a vela. Esses empreendimentos mercantis não estavam isentos, ainda, de um certo espírito de aventura, de um acentuado caráter de improvisação, que vinham chocar-se, amiúde, com o imprevisto de usos e costumes brasileiros, que faziam por adaptar-se, num mimetismo que se acentuava com o correr do tempo, ao modo de viver das nações europeias.
Talvez não fosse imaginário, pois, o amigo a quem Gallès se refere em seu livro, e que lhe teria dito: "Ah! que n'avais-je les notions que tu publies, lorsque je mis le pied sur la terre du Brésil!... combien j'aurais béni le nom de celui que m'aurait préservé de tant de pertes et de tribulations!"... Em 1817, aliás, e com maior razão, já Tollenare procurava advertir de tais perigos seus compatriotas que pensavam que bastava "passar-se ao Brasil para nele fazer fortuna". E citava o caso de sobrecargas e capitães de navios franceses que não falavam dos negócios realizados na Bahia e no Rio de Janeiro "senão para mencionar prejuízos de 20, 30 e 40%". (2)Nota do Autor E outros vegetavam no Brasil em situação de total penúria.
O Journal de Commerce de Paris, de 6 de dezembro de 1828, reconhecia, como veremos, segundo transcrição de Gallès, que o comércio da França com o Brasil havia assumido, nos últimos anos, grande extensão; muitas operações tinham fracassado, entretanto, por falta de conhecimentos práticos sobre os artigos que convinham ao nosso país, sobre o seu regime aduaneiro e sobre muitas coisas mais, que concorriam, além do que se supunha, para o êxito de tais expedições.
Realmente, fator importante para o exportador ou seu intermediário não poderiam deixar de ser as diferenças que teriam de estar presentes na escolha dos artigos destinados às três praças, então as mais destacadas do Brasil - Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. E sobre elas discorre Gallès em seu livro, fazendo recomendações, não só quanto aos produtos, como quanto ao lugar de seu consumo, com verdadeiro espírito de caixeiro-viajante. Lembrava ainda que, no caso de determinadas mercadorias, a França, com certas modificações que indica, poderia vencer a Inglaterra, sua rival nos mercados brasileiros. E de grande oportunidade deveriam ser, também, as suas observações, quer de caráter fiscal - como o pagamento de direitos e praxes alfandegárias, não raro abusivas - quer a propósito dos usos comerciais e preferências do consumidor. Roteiro seguro não deixaria