Um precursor do comércio francês no Brasil

nossos produtos agrícolas como manufaturados; as riquezas inesgotáveis de seu solo; a imensidade dos tesouros que a natureza prodigalizou a estas terras ainda virgens; o consumo quase inacreditável que aí poderiam ter nossos vinhos e espirituosos, se o negociante conhecesse de um modo preciso e material o gosto e o paladar dos brasileiros; as perdas assustadoras a que estão sujeitas as casas que se dedicam a explorar estas paragens, sem noções exatas e com o desconhecimento de suas necessidades; os gastos exorbitantes que podem ser evitados, possuindo-se dados certos e concatenados a respeito do país; as dificuldades que há em encontrar-se na França esses elementos, baseados na experiência e boa-fé; os vexames alfandegários de que se é vítima, quando se ignoram os meios de atenuá-los ou de repeli-los pelo direito; os atrasos, sempre prejudiciais, que sofrem os capitães que desconhecem as disposições das leis aduaneiras; uma imensidade, enfim, de importantes considerações de economia comercial, o desejo e a convicção de ser útil a meus concidadãos ou a alguns amigos apenas, bem como os conselhos das principais casas comerciais do Havre e da capital é que me decidiram a escrever estas reflexões".

E ao dar conta de seu propósito, esperava Gallès que seu modesto trabalho, como ele o classifica, pudesse chamar a atenção de pena mais experimentada, pois uma obra bem escrita sobre este assunto, que tivesse certa divulgação, estaria destinada a desempenhar um fim moral, esclarecendo os consignantes de seus direitos e dando aos consignatários das mercadorias a obrigação de cumprirem dignamente seu mandato.

Tremera ao pensar que "uma diferença de gosto ou de cor seria o suficiente para arruinar um pequeno comerciante de pacotilha, uma casa, uma família, uma sociedade industrial", para não falar das catástrofes que poderia acarretar um termo mal empregado num contrato de fretamento. Bem lhe dizia um amigo: "Ah! que n'avais-je les notions que tu publies, lorsque je mis le pied sur la terre du Brésil!... combien j'aurais beni le nom de celui que m'aurait préservé de tant de pertes et de tribulations!..." A França, continuava Gallès, "descuidou-se por muito tempo do comércio com o Brasil e ainda hoje desconhece sua importância, porquanto o descaso com que são organizados nossos carregamentos para aquelas regiões bem demonstra que ainda não nos apercebemos das vantagens que oferecem à nossa balança comercial".

E, realmente, quem lucrara com tal descaso fora a Inglaterra, a qual gozava, aliás, desde 1810, de favores alfandegários que só

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