E confirmando a observação feita por quase todos os viajantes, sobre os costumes brasileiros da época, acrescentava Gallès: "O consumo (de mercadorias), que me parece digno, desde já, de merecer cuidadosa atenção, quer do governo, quer do comércio francês, se ressente necessariamente, ainda hoje, do costume antigo que não permite às mulheres destas regiões ver a luz do dia senão do interior de suas casas".
Mas na ocasião em que nosso viajante aqui esteve, outro entrave seríssimo embaraçava as relações mercantis do Império: "A guerra obstinada com Buenos Aires e que eu considero interminável", ponderava Gallès com grande propriedade, "enquanto o Brasil pretender conservar as mesmas pretensões sobre a Província Cisplatina, pois que o orgulho e a ambição falam sempre mais alto do que a sabedoria e a moderação entre os homens; a guerra, repito, golpeia também rudemente o comércio do Rio de Janeiro e do Brasil em geral; cada dia que passa conta com o apresamento, mais ou menos numeroso, de embarcações e navios pertencentes aos brasileiros; e não raro a capital não pode atender às necessidades de sua exportação, pois os proprietários das mercadorias têm receio de ser aprisionados durante a pequena navegação que são obrigados a fazer de suas plantações à cidade. Este estorvo acarreta amiúde a carestia dos gêneros, a qual, por sua vez, provoca inevitável alta de preços".
É de se notar que a Convenção Preliminar de Paz entre o Brasil e a Argentina foi assinada em 27 de agosto de 1828. Gallès observa, aliás, em nota ao pé da página, que, na ocasião em que seu livro se encontrava no prelo, anunciavam os jornais o término das hostilidades entre os dois países. Não deixa de surpreender que no comentário que acima transcrevemos, sobre as consequências das hostilidades entre os dois países, não tivesse ele feito qualquer referência ao apresamento dos navios mercantes franceses realizado pelo Brasil, em virtude do bloqueio do Rio da Prata, fato que culminou com a entrada, no Rio de Janeiro, de uma esquadra sob o comando do Almirante Roussin, para apoiar o protesto da França. (32)Nota do Autor
O tráfico de escravos, ainda então intensíssimo, apesar das medidas repressoras adotadas pela Inglaterra, foi a coisa que mais feriu a sensibilidade de Gallès, no Rio de Janeiro. "É comum", dizia ele, "ver chegar navios negreiros com quinhentos a seiscentos