Um precursor do comércio francês no Brasil

escravos, comprimidos uns contra os outros, como o gado que os nossos carniceiros enviam ao corte. Estas inocentes vítimas da civilização são trocadas e adquiridas exatamente com as mesmas formalidades que os nossos animais na Europa". E Gallès continuava, revoltado: "Et il faut rougir de porter le nom d'homme quand on entende dire à un Brésilien: Je donnerais 100 fr. de plus de cet homme, s'il était plus gras, et qu'il eút l'oeil plus animé..." E, para dar prova de seus conhecimentos linguisticos, apressava-se a aduzir, na língua original, parte da frase que tanto o havia ferido: "Eu dacare 16 mil-réis de mas por esse homem, se me paresse mars gorde"...

Era o espetáculo dos leilões de escravos, com o seu cortejo de horrores, onde o observador de melhores sentimentos ficava em dúvida se devia "chorar ou rir sobre a extravagância humana", quando ouvia "o charlatão gritar com todo sangue-frio" (e aqui vai a frase no português insólito de Gallès): "Pois enton seignors, coragem, à 130 mil-réis homem".

E contra tal ignomínia clamava o autor de Du Brésil, lamentando que a História tivesse de dar conhecimento desses sacrilégios à posteridade, que dificilmente poderia acreditar que eles houvessem ocorrido nos domínios de reis cristãos, e num século em que as ideias de liberdade abrasavam os homens nos dois hemisférios. (33)Nota do Autor

E Gallès aduzia, com uma eloquência à altura de nossos futuros abolicionistas: "É em vão que penas venais tentarão provar que este tráfico infame é um mal necessário à prosperidade do país em que ele se opera; é em vão que, por meio de princípios especiosos ou de sofismas dignos de séculos bárbaros, procurarão insinuar-nos que, por causa do pequeno movimento emigratório de europeus para o Brasil, este país, desprovido de força numérica, está reduzido à cruel necessidade de saquear os silenciosos e selvagens

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