desertor intentasse embrenhar-se no sertão, era logo preso e metido a ferros graças à falta de caminhos e de recursos para quem a tanto se atrevesse. Inúmeras outras medidas dentro da mesma mentalidade do paço lisboeta foram expedidas para completar o exaustivo sistema. Uma das mais nocivas aos coloniais tornou-se a proibição de indústria nas capitanias para que se não desviassem braços das minas. Decretos complementares vieram-se-lhes ajuntar, como verificamos no presente livro. Via-se, desse modo, o Brasil reduzido ao papel de "vaca leiteira", sem esperança de qualquer compensação pelo seu sacrifício. Pelo contrário. Dava-se, na metrópole da segunda metade do século XVIII até 1808, curioso fenômeno de psicologia social coletiva, pouco conhecido de modernos historiadores. Como que alarmados pelo inevitável aumento, e, daí, importância da população colonial, eram mal vistos, detestados e espezinhados pelos reinóis os estudantes dos principais centros brasileiros presentes em Coimbra, por falta de ensino superior na colônia. Em vários trabalhos nossos, entre outros no Tomás Ender, pintor austríaco na corte de D. João VI, que constituí ensaio sobre a formação da classe dirigente brasileira, aludimos a esta fonte de malquerenças ditadas por outros refolhos de colonialismo a se manifestar onde menos se esperava, verdadeiras incitações a rancores, inimizades e choques de toda ordem, agravados pelo exemplo dos Estados Unidos em luta para obter a liberdade, sucesso sobremaneira impressionante para a mocidade de norte a sul das Américas.

Por influxo da atual ditadura portuguesa — estreitamente nacionalista como todas do gênero pequeno burguês — alguns elementos mal avisados nas margens do Tejo, e outros movidos por interesses rasteiros nas do Tietê, lembraram-se de contestar fatos incontestáveis. Chegaram ao disparate de proclamar, à imitação de um