Muxarabis & balcões e outros ensaios

das demais criaturas. Sobrepõe, dessarte, "o particular ao universal" e "o pitoresco ao psicológico", "movido menos pelo desejo de observar costumes... do que pela crença, o seu tanto ingênua, de que divergências de hábitos significam divergências essenciais de feitio". Isso não ocorre em Senhora de Engenho, o que, talvez, virá a acontecer em seus posteriores romances, de urdidura técnica mais perfeita. Se Mário Sette aflora, em Senhora de Engenho, o regionalismo quando se mostra ansioso por desvendar os encantos particulares da paisagem, distancia-se ele, entretanto, daquela corrente literária pelo fato de não se encontrar em suas personagens nenhuma síntese do meio a que pertencem. Nestor, Lúcio, Hortênsia são títeres ou fantoches "movidos pelos cordões do autor", o que vem reforçar a fórmula de Forster, isto é, o romance baseia-se numa evidência + ou - x, a quantidade desconhecida sendo o temperamento do autor, que sempre altera, quando não modifica, de todo, o resultado da evidência ("and sometimes transforms it entirely").(3)Nota do Autor Quando muito, Mário Sette atinge, em Senhora de Engenho, o realismo, como, por exemplo, na descrição de alguns flagrantes da vida social do Nordeste. Embora (diga-se também) os fatos possam realmente não ter, como o pretende o autor, ocorrido de modo tão normal e tão regular. Por outras palavras, a vida social e moral da casa-grande, toda suavidade, toda bonança, toda mansuetude, pode ter existido, mas como exceção. A casa-grande, como se sabe, nem sempre foi um paraíso. Júlio Belo deixou-nos a descrição de algumas cenas do eito, onde campeava a indisciplina, vivendo os negros a roubar e a beber sem moderação, embora tudo sob o olhar complacente dos donos. Reconhecendo que, de modo geral, usufruíam os escravos uma vida higienicamente superior à dos moradores das atuais favelas, observam os nossos sociólogos que, nem por isso, deixavam

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