os mesmos de ser explorados até o último pingo de sangue. Negros aleijados pelos castigos, com marcas de chicotes ou sinais de suplício, eram muitas vezes mencionados nos anúncios dos jornais. Nesse sentido, há, no recente estudo de Diegues Júnior, páginas interessantíssimas. O conhecido Relatório de Peçanha da Silva traz a minuciosa descrição das antigas senzalas, que justificam aquela tradicional frase dos pretos livres de Sergipe, registrada por Felte Bezerra: - "Vou tê agora jinela e porta de fundo". A civilização do açúcar, monocultora e monossexual, aristocrata e escravagista, foi, no dizer do autor do Nordeste, opressora do negro, do menino e da mulher, embora ostentando uma galantaria e um cavalheirismo dos mais brilhantes. E isso talvez explique porque o jesuíta Andreoni aconselhava aos capelães que morassem sozinhos e fora das casas-grandes. Caio Prado Júnior salienta, finalmente, que a casa-grande ficou muito aquém da sua missão "O sistema de vida a que ela dá lugar (diz esse historiador), a promiscuidade com escravos e escravas do mais baixo teor moral, a indisciplina que nela reina, mas disfarçada por uma hipócrita submissão, puramente formal, ao pai e chefe, tudo isso faz da casa-grande antes uma escola de vício e desregramento que de formação moral".
Senhora de Engenho começou a ser escrito em 1919; dois anos após, o livro estava pronto e publicado. Se houve romance em que não se vislumbra nenhuma influência do mundo contemporâneo, há de ser tanto quanto Senhora de Engenho.
O triênio de 1919-1921 é um dos periodos mais revolucionários da história da humanidade. Lembra o que o Cristianismo teria sido para o mundo antigo: o fim de uma civilização e o começo de outra. A Rússia, exausta da guerra civil, inicia a sua Nova Política Econômica.