Desse dom de paisagista tira Mário Sette o máximo proveito, sendo a mata pernambucana, que tão bem descreve, a mesma mata que Teles Júnior transportou para os seus quadros. Onde Mário Sette falha, entretanto, é no manejo das figuras. Ou melhor (como me parece já o ter dito alguém), quando sai do ar livre para ingressar nos recintos fechados e quando deixa o canavial, o agreste e as campinas para meter-se entre as quatro paredes da cozinha, da sala de jantar e do quarto de dormir. É que os caracteres, criados por Mário Sette, são diluídos em meias-tintas. Por outras palavras, o autor (conclui Gilberto Freyre) é incapaz de animar o elemento humano.
Houve em Mário Sette, ao meu ver, essa suposta incapacidade de animar o elemento humano? As personagens de seus romances, como já o disse, algumas vezes se transformam realmente em verdadeiros títeres; esse defeito, porém, é proveniente mais dos seus desígnios de prosélito e de moralista do que mesmo da natureza ou da compleição do escritor. Um defeito, em conclusão, mais superficial do que congênito. Quando Mário Sette deixa a figura um tanto solta, esta anima-se de intenso vigor humano. Tal o caso, por exemplo, de Maria da Betânia, que o próprio autor de Casa-Grande & Senzala reconhece precisar apenas de umas pinceladas mais fortes. Maria da Betânia - só meiguice, só ternura, só timidez - não é seduzida porque não há, em Senhora de Engenho, lugar para o adultério. Sente-se que Maria da Betânia, se não fora o sentido intencional do autor, seria a vítima do conflito moral, mesmo sem o querer ou mesmo contra a sua própria vontade.
É, ao abandonar o moralismo e o proselitismo, que se acentuam em Mário Sette as suas qualidades de romancista. Já agora o leitor vai encontrá-lo rumando para a estrada do regionalismo. Essa nova fase acentua-se com a publicação dos romances Seu Candinho da Farmácia