Muxarabis & balcões e outros ensaios

conjunto, um encanto. Há cem anos passados, quando Marcel percorreu o Cairo, que é uma das cidades clássicas dos muxarabis, teve a impressão de estar relendo as Mil e Uma Noites. (42) Nota do Autor Em parte por causa dos muxarabis, que davam um extraordinário encanto às ruas daquela cidade levantina. (43)Nota do Autor Por outro lado, o muxarabi corrige o excesso de iluminação. O muxarabi, escreve Ricardo Severo, provém dos "países quentes e luminosos, como vedo contra os raios do sol; a ação é semelhante à da folhagem das árvores, por cuja enredada treliça se coa a luz, cuja intensidade se acalma, produzindo ao mesmo tempo uma sombra fresca e um arejamento natural e perfeito".

Em Olinda existem dois abalcoados ou restos de muxarabis. Um na rua do Amparo, nº 28; outro na praça Conselheiro João Alfredo, nº 7 (figs. 5, 6 e 7), outrora, o tradicional pátio de São Pedro. Ainda se veem, nos seus almofadões, as reixas quadriculadas; a parte superior dos abalcoados desapareceu e com ela as adufas. Provavelmente nos fins do século XVIII, ao tempo do capitão-general D. Tomás José de Melo (1787- 1798), inimigo dos calçamentos desalinhados e das ruas tortas. O mesmo que impôs a destruição das urupemas, no que foi imitado, mais tarde, pelo governador Luis do Rego (em 1821, quando essa autoridade soube que, em Goiana, ainda se usavam as urupemas, promoveu um legítimo assalto contra elas).

No Rio de Janeiro, a ofensiva contra os muxarabis teve início na administração do intendente ou alcaide Paulo Fernandes Viana. Foi um desadouro. Não ficou urupema inteira. O príncipe-regente temia, talvez, que se fizesse mau uso das adufas mouriscas, por cujas frinchas bem podia passar o cano de uma arma, - terror de todo não infundado, pois, cem anos antes, o governador

Muxarabis & balcões e outros ensaios - Página 46 - Thumb Visualização
Formato
Texto