e esclarecida política agrária. Uns autores chegam a reduzir a terra a simples suporte das plantas, e são contestados por outros. É inegável, entretanto, que terras menos férteis são mais produtivas do que terras mais férteis, determinando o grau de produtividade a qualidade do agricultor, do homem. Este é, portanto, o elemento dominante na agricultura.
***
A agricultura tinha mesmo de ser importantíssima para o nosso país. O Brasil nasceu para a Civilização no século XVI, ou seja no século do renascimento da própria agricultura, que, à queda do Império Romano, estivera talvez tão adiantada quanto hoje, mas sofrera abandonos posteriores. No século do descobrimento, a Europa já sentia falta de produtos agrícolas e de matérias-primas. O expansionismo náutico, notável à época, não era determinado pela necessidade de mercados de consumo, mas pela dos de compra. À Índia, e à China, e ao Japão, de um lado, às Américas de outro, o que a Europa reclamava eram o algodão, as drogas, as sedas, as especiarias, os perfumes, as madeiras, o açúcar, o trigo. Expedindo Raleigh ao Ocidente, a rainha Isabel lhe determinava mandasse à Inglaterra o trigo e a madeira, que faziam falta. Foram as madeiras. Não foi o trigo. Mas foi a batatinha, que haveria de avassalar o Velho Mundo. Faltava de tal modo o algodão que rainhas e princesas se emprestavam camisas; e constituíam regalos invejáveis os tecidos, com que a duquesa de Sabóia mimoseava os "signori della Corte". O trigo sobe de cinco xelins o bushel, em 1500, a 15 em 1541. Assenhoreando-se dos campos para transformá-los em pastagens, os nobres e o clero, os camponeses começam a evadir para as cidades, provocando talvez a primeira crise de trabalho. Em 1502 se proíbe, por isso, o uso de máquinas. Cresce o número de mendigos, de chômeurs e insinua-se o primeiro movimento, indeciso, de emigração: o desejo de procurar, em outras plagas, trabalho mais abundante. Essas outras plagas vêm de ser descobertas, e seu futuro dependerá exatamente do fenômeno social que nasce com elas: emigração.
No século, em que nasceu o Brasil, nasceu também a burguesia, ávida de bens materiais, de riquezas, de confort. Mais do que, futuramente, a Revolução, as Américas influíram na expansão burguesa, fornecendo aos hedonistas europeus o ouro de suas entranhas, e as abundâncias de sua agricultura, nascida, portanto, em boa época.
E mais ou menos com o Brasil nasceu Inácio de Loiola, nasceu a Companhia de Jesus, por ele fundada — fato muito para marcar-se, porquanto os jesuítas constituíram o principal elemento propulsor da nossa agricultura, mesmo silenciando que, sem a sua égide forte e corajosa, teríamos sofrido muito mais do europeu dilapidador, e