História geral da agricultura brasileira v.1

CAPÍTULO II

O PORTUGUÊS

O invasor português, diz Calógeras, era rude exemplar humano. "Sede de pilhagem e de sangue, eram atributos normais em tais tempos; religião e superstição, ódio aos incréus que perseguia, eram feições comuns". O bispo de Leiria usava um conselho, que bem define o espírito do colonizador português: "Vá, degredado, para o Brasil, donde voltarás rico e honrado". Era esperar demasiado desta terra. O país descobridor não teve capacidade para compreender o alcance do acaso de 1500. Não chegou mesmo a apurar bem se se tratava de continente ou de ilha. Só anos depois começou a colonizar, e não deu tino de muita sabedoria, nem, muito menos, de consideração para com o novo domínio. O primeiro governador-geral chegou aqui com 600 soldados e 400 degredados, todos desejosos de ver transformada em realidade a primeira parte do vaticínio do bispo de Leiria. O que era Portugal naquele tempo, sabe-se que contava pouco mais de um milhão de habitantes mal governados, muito atarefados em comboiar riquezas indianas e japonesas. O país valia tão pouco, era tão precária nele a situação da corte, que a ideia da trasladação desta para o Brasil — ocorrida no século XIX, ante as ameaças napoleônicas — surgiu logo depois do descobrimento, logo no início da colonização. Martim Afonso de Sousa, chefe da primeira expedição colonizadora e gatuno contumaz nas Índias, de onde fora afastado, aconselhou isso a D. João IV e Luís da Cunha foi insistente com D. José I, no mesmo sentido: "Que é Portugal? perguntava ele; uma orelha de terra, de que um terço está por cultivar, posto que capaz de cultura; outro pertence à Igreja; e o terceiro não produz grão bastante para sustentar os habitantes". Sem falar no que não prestava, nem presta. População, onde dominava a percentagem de viúvas, seguida da dos que, nada tendo a fazer nos campos, curtiam miséria na cidade. O país importava as especiarias asiáticas e, para encher o outro prato da balança, importava também, de países europeus, os artigos necessários ao intercâmbio com as Índias. Política econômica artificial,

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