primeira vez, fui despedir-me do Butantã - cenário dos meu primeiros passos de profissional.
Embora o Instituto do Butantã já fosse conhecido nos meios científicos de todo o mundo civilizado, suas instalações eram o que pode haver de mais simples: o laboratório - o único! - era uma antiga cocheira adaptada; à direita de quem entrava, o biotério - criação de coelhos, cobaias, pombos, ratos, destinado às experiências; no mesmo eixo do laboratório, e a ele ligado por um corredor, uma cocheira para grandes animais; fora, um galpão cimentado onde se praticavam as sangrias nos animais imunizados, fornecedores do soro bendito que disputaria à morte os nossos caboclos - fatores primordiais da economia nacional; e finalmente, ao lado de um renque de eucaliptos que ia até à margem esquerda do Rio Pinheiros, uma esterqueira. E era tudo nisto resumido o grande Instituto do Butantã, onde o sábio brasileiro escrevia o novo capítulo da seroterapia antiofídica, impondo-se ao mundo da ciência experimental, ficando assim eloquentemente provado que temos aptidão para perlustrar todos os ramos do saber humano!
Nesse humilde barracão vi entrarem as personalidades mais notáveis da época: o estadista Clemenceau, que, para não se esquecer de que era médico, envergou um avental de laboratório a fim de acompanhar a Vital Brasil em suas interessantes demonstrações de eficácia dos diversos soros antipeçonhentos; Paderewsky - o pianista genial, alto, magro, cabeleira eriçada de milho verde; Rubem Dario - o poeta que elevou os acordes de sua lira mais alto que os píncaros da Cordilheira Andina. Lembro-me ainda da emoção de vate ao contemplar a luta de uma muçurana com uma jararaca: quando a muçurana conseguiu subjugar sua vítima e dava início à deglutição, Rubem, fechando os olhos, estremeceu