Caatingas e chapadões

Apesar desse encanto singular, gritou mais alto o estômago - símbolo da matéria que integra o ser vivente à terra, à vulgaridade da vida fisiológica - e, antes de mais nada, fui, em companhia do meu saudoso colega e companheiro de Comissão - Armando Negrais, em busca de um hotel, onde se comesse bem, pois a bordo mal pude tragar um chá, que desde essa época me tornou todos os chás intragáveis.

E a viagem continuou. A baía de Vitória foi ficando ao longe, e, mais do que na entrada, deu-me a impressão de um presépio impropriamente, embora, instalado à beira-mar. Contente, alegre, encantado pelo espetáculo ímpar que a natureza me havia proporcionado na graciosa baía capixaba, dei o dia por encerrado e tratei de me encaminhar para o camarote onde a exalação de tinta fresca punha à prova meu pobre estômago. Lembrei-me do conselho do bondoso amigo Dr. Silveira Mello: - "Caso você sinta qualquer coisa de anormal no estômago, deite-se em decúbito dorsal e assim evitará o enjoo." Esta prática deu bom resultado. Dormi regularmente, contudo dei graças a Deus, quando amanheceu. Manhã bonita, ensolarada, calma (o que era para mim o mais importante), convidava a dar um passeio pelo tombadilho.

Mais ou menos às nove horas passamos pelos Abrolhos - meus velhos conhecidos, conhecidos quando no grupo escolar lia os primeiros capítulos da História do Brasil. Que de recordações me vieram à mente! A luta impávida dos primeiros povoadores da Terra de Santa Cruz! O fim trágico de muitos deles que naufragavam de encontro a essas ilhotas! Contrito, silencioso, fiquei em pé alguns momentos em memória daqueles ilustres varões que tudo deram, inclusive a vida, para trazer à civilização a nova nação que surgia.

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