Caatingas e chapadões

Depois que se transpõe o Farol da Barra, na Bahia de S. Salvador, sempre que a vista alcança a costa, notam-se manchas verdes constituídas em grande parte por coqueiros. Da Bahia até o Pará, em todos os portos, aparecem a bordo vendedores de cocos verdes: isto quer dizer que nessa grande extensão de litoral há plantações de coco, não tão grandes, infelizmente, como poderiam e deveriam ser.

Os arrabaldes de Recife, como já fiz notar, estavam todos "contaminados" de cocos da praia, no dizer típico do Zé-povo. Registrei aí um fato interessante e engraçado: interessante, porque mostra o estado de atraso do nosso povo, e engraçado pelo desfecho que teve. Percorrendo os cocais para poder fazer um juízo mais ou menos seguro de sua importância econômica, ao atravessar uma ponte sobre um igarapé, dos que cortam o vasto mangal aí existente, encontrei um velho com um varal cheio de fileiras de caranguejos ao ombro, e como era belo tipo regional, característico da sub-raça de que fala Euclides da Cunha, cumprimentando-o, perguntei-lhe:

- Então, muitos caranguejos por estas bandas?

- É cumo vomicê tá vendo.

- O senhor permite que eu lhe tire um instantâneo?

- Cumo? Qu'é que vamicê tá dizendo?

- Estou dizendo: se o amigo me permite, vou tirar seu retrato com esta máquina. Quero mostrar pra minha gente, lá de minha terra, como um velho pernambucano é forte e sabe pescar caranguejos!

- Nhôr, não!

- Mas por que?

- Por aqui, seu moço, já andaro uns inglileis com essas máquinas, e depois dessa arrumação pegô morrê gente cumo quê!

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