Caatingas e chapadões

fui recebido por um sargento do exército, muito convencido das suas funções de comandante.

- Entre. "Um gênio carinhoso e amigo" - o sargento tomou-me a dianteira com a viseira do quepe a indicar no espaço 45º, deixando à mostra uma trunfa de cabelos negros que quase lhe cobria o olho direito, e pôs-se a falar, indicando-me os diversos compartimentos do forte. Galguei o plano inclinado que leva até à praça onde estavam os canhões. No meio do pátio, que era redondo como o forte, vi um monte de balas de uns dez centímetros de diâmetro. Pedi uma daquelas preciosas "contas", para guardá-la como lembrança, mas o sargento - fiel guardião - delicadamente negou. Não insisti. Intimamente, fiquei contente com a disciplina militar do gentil cicerone.

Os canhões eram verdadeiras preciosidades históricas: alguns traziam as armas do Rei da Espanha e Portugal. Depois de, examinar atentamente as armas dos Felipes, que tão nitidamente ainda se desenham no dorso de um velho canhão sobre uma carreta em minas, dei-lhe uma palmadinha no flanco direito, e, enquanto ele resmungava em sons metálicos, talvez saudades dos tempos idos, mentalmente perguntei-lhe:

- Então, amigo, que fazes aqui há tanto tempo, sempre olhando para o mar, sentinela atenta, como quem espera ainda alguma coisa? Julgas, por ventura, que as naus inimigas aqui aparecerão ameaçadoras, de carantonhas à proa, de velas pardas, procurando transpor a barra? Tu és um retardatário; todos os teus companheiros daquelas eras já não mais existem. Os navios que porventura escaparam às tuas balas, irmãs destas que estão amontoadas ao teu lado, não evitaram a ação do tempo. Parece um ator que ao terminar o ato ficou aquém do pano, permanecendo em cena depois de tudo acabado. O teu lugar não é aqui, amigo velho, e não

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