Sob frondosas mangueiras a rua principal da cidade se estendia ao comprido do cais. Ali é que estavam instalados os hotéis, as casas comerciais mais importantes, o Quartel da Polícia, a feira e os vendedores de quinquilharias, esquisitices da terra: búzios marítimos, bonecas de pano, miniaturas de jangadas, etc.
Debaixo de uma árvore, ou sentado na calçada, estava um pobre velhinho com sua viola cantando louvores aos "brancos". "Os brancos" eram os passageiros. Creio que não há quem tenha passado por Cabedelo que se não lembre deste interessante músico da rua.
As outras vias públicas eram irregulares, estreitas, verdadeiras vielas, que davam acesso às casas residenciais, sem o menor cuidado urbanístico. As casas nasceram como os coqueiros - ao Deus dará. Poder-se-ia dizer uma cidade sui generis à sombra de um enorme cocal. Lembrava essas povoações africanas que estamos acostumados a ver em litografias ou nos "Tapetes Mágicos" dos cinemas. Embora tudo fosse atrasado, não deixava de ser pitoresco - fonte em que nossos artistas poderiam beber as mais belas inspirações.
Havia uma linha de bonde que saia do porto pela rua principal, passava em frente à igreja, virava à direita deixando à esquerda uma carreira de casas cobertas de telhas e de bom aspecto; sempre sob as palmeiras, corri até chegar a uma formosa praia, que, se não me falha a memória, chamava-se Praia Formosa.
Que beleza! Acompanhando o gracioso semicírculo da praia, próximo ao lugar onde as ondas do mar vinham docemente morrer na areia límpida, branca, estavam espalhadas pequenas vivendas, que não eram obras de arte, mas sim verdadeiros mimos, oferecendo o mais encantador agasalho ao homem cansado do reboliço das grandes cidades. Numa rede macia, armada entre dois coqueiros, sem pensar no dia de amanhã,