Caatingas e chapadões

O pequeno, antes de ter saído a última sílaba dos meus lábios, rápido como bote de cobra, fez saltar um dos olhos do coco e a água espirrou, molhando-me o rosto e o paletó.

- Não é nada - disse, entregando-me o coco; isso não mancha.

O passageiro que não é mais marinheiro de primeira viagem, quando salta em terra, vem munido de um canudinho de papel, daqueles com que se tomam refrescos, e assim bebe a sua água de coco comodamente. Os que não sabem, ou não são prevenidos, têm de beber diretamente do coco, molhando o colarinho e a gravata.

- Agora o meu patrão, experimente o branco que também é bom.

O viajante toma fôlego, dá um suspiro, procura fazer sair o ar (com perdão do mau ensino) que possa existir no estômago, leva as mãos à cinta, como quem consulta se haverá ainda lugar para mais um coco, e, finalmente, a gulodice vence: antes mesmo que ele ordene a abertura do coco, o menino, que pelos olhos ia lendo o seu pensamento, célere dá um golpe de facão no fruto, e, entregando-o, alegre, exclama - pronto!

Não é pois de admirar - o viajante esgotou o segundo coco, e o rapazinho animado perguntou: mais um, patrão?

- Ó pequeno, você pensa que meu estômago é de borracha?

- Então eu descasco uma dúzia p'ra o patrão levar e ir bebendo na viagem.

- Isso já é outro negócio. Quanto custa a dúzia?

- A três tostões cada um, são 3$600.

- Você sabe ler?

- Nhôr, não. Mas conta de coco eu "tiro". Nisso ninguém mi fais disfeita, não."

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