Caatingas e chapadões

aconselhados pelos amigos, compramos as redes cearenses, porque são muito estreitas.) O sulista não sabe ajeitar-se na rede para dormir: vira de um lado, vira de outro, põe a cabeça onde estavam os pés, abaixa um pouco mais a rede, suspende-a de novo, e de repente, quando menos o espera, um punho da rede mal amarrado se destaca, e lá vai o sulista a dar com os costados no chão. Todo mundo ri. Isto dura até que um dos companheiros de viagem, nortista, sempre muito gentil, vai e pede licença para arranjar a rede e juntando a ação às palavras:

- Moço, a rede não deve ser nem muito alta, como para quem vai esperar bichos do mato nas batidas, nem tão baixa que encoste ao chão. Vê? Assim. Deite-se agora atravessado: bote um travesseiro debaixo do pescoço, ou na falta deste um lençol serve, e verá como dá certo.

Eram 11h e eu não podia dormir: a família, os amigos, São Paulo, pedaços interessantes da vida, vinham-me à mente, e como uma criança que saboreia um caramelo, um bombom azedinho, eu, com os olhos um pouco umedecidos, saboreava o agridoce da saudade. Levantei um pouco a cabeça da rede, e vi toda a vila coberta pela luz alvacenta da lua - as dunas de areia branca, o arvoredo, as casinhas aqui e acolá, davam-lhe o aspecto triste de um cemitério.

De madrugada, quando o sono afinal havia vencido a nossa fadiga, um forte estampido de roqueira ou pequeno canhão, nos acordou sobressaltados. Um colega perguntou em voz alta: - que é isso?

- "Se aquiete, patrão; não é nada, não. É bestagem lá da terra."

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