- Está vendo, Doutor? disse-me o Comandante. Foi por isso que ainda há pouco eu lhe disse que não sabia em que dia chegaríamos. E sorriu.
Começou um serviço exaustivo, que demandava esforços titânicos. Do guincho, que estava fixado na proa, desenrolaram um cabo de aço, cuja ponta foi presa ao tronco de uma palmeira. Marinheiros munidos de pás, com água pela cintura, procuravam abrir caminho na areia, enquanto o guincho enrolava o cabo levando o navio para a frente, aos centímetros. Perdemos umas três ou quatro horas. Quando conseguimos transpor a "coroa" (cuja pronuncia aqui é - croa) o sol estava desaparecendo. O crepúsculo foi rápido.
Jantamos e fomos preparar as redes para o sono reparador. O dia fera cheio de emoções e não houvera descanso.
Esqueci-me de contar que, em Fortaleza, onde compramos as redes, compramos também o respectivo mosquiteiro. Era muito engenhoso, e evitava completamente o importuno e perigoso mosquito. Deitei-me, obedecendo aos ensinamentos que foram ministrados. A mosquitada cantava em volta do mosquiteiro, e isto me dava um prazer quase infantil.
- Vocês, dizia eu, como se eles me pudessem entender, desta vez perdem o precioso tempo; cantem à vontade, que o meu rico sangue não sugarão.
Lá pela meia-noite acordamos com um grande alarido.
- Pula da rede, gente! Olha o galho da árvore!
O naviozinho desgovernou-se, e dando uma guinada foi bater no barranco do rio. Mal tivemos tempo de proteger as lides e os mosquiteiros. Felizmente tudo terminou mais ou menos bem.
Acordei de madrugada. O dia vinha despontando. Nas copas das árvores da beira do rio o corrupião cantava.