Dona Mimi, a bondosa Mme. Charropin, para aplacar as rabugices do Negrais, mandava-nos, quase todas as tardes, uma suculenta e gostosa sopa, de que só os franceses e alemães têm o segredo.
O quintal da casa em que morava o casal Charropin era grande e arborizado. Predominavam os cajueiros e as anonas, isto é - fruta de conde ou pinha.
Em pouco tempo, D. Mimi povoou o seu Éden de macacos, papagaios e araras. Era um encanto ver aquela bicharada alegre, saltitante e palradora.
Numa das nossas constantes visitas, normalmente à noite, depois do jantar, Mme. Charropin contou-me um caso interessante, "un à propos", de um papagaio.
- "Esta manhã apareceu-me uma senhora com um papagaio para eu comprar. Fiz-lhe ver que já tinha muitos. "Mas como este, - disse a vendedora, - a senhora não tem. Ele é muito falador, - continuava a senhora, - portanto deve comprá-lo". Disse-lhe terminantemente que não queria comprar o papagaio. Este empertigou-se todo no poleiro da gaiola, e, como que me olhando, articulou esta beleza: "BURRO!" Não pude conter uma forte gargalhada. Para terminar: comprei o insolente papagaio."
Eu, se quisesse ir um pouco além da coincidência, teria escrito "burra", mas, a bem da verdade, consigno o vocábulo no masculino tal e qual saiu da língua do louro.
E assim fomos vivendo em Teresina, vida pacata, serena, sem contrariedades. Sem contrariedades, é modo de dizer, pois tínhamos o calor que nos martirizava.
Como é interessante o subconsciente humano! ... De tal maneira me acostumei, quando deitado na rede, a balançá-la, para refrescar-me um pouco, que, dormindo, dava com o pé na parede, para embalar-me, e não acordava.