No começo pensei que se tratasse de conferências para discutir problemas da administração pública. Não. Eram simples palestras de passatempo, em que cada um procurava contar a anedota mais engraçada para desopilar o fígado do Governador, ou então tecer uma intrigazinha política.
Todo o mortal tem sua maniazinha ou um hábito qualquer que o diferencia dos outros. O Dr. Miguel Rosa trazia no bolso do colete um pequeno frasco esverdeado, com rolha de vidro, cheio de uma mistura medicamentosa em que predominava o cheiro de mentol. A todo momento, ou, como dizemos aqui em São Paulo - teretetê - tomava uma pitada, encostando a boca do vidrinho nas narinas. Até aí, nada de mais: cada um cheira o que bem lhe apetece e lhe agrada, como os nossos saudosos avós tomavam o rapé sutil, que os fazia espirrar gostosamente; o que, porém, me causava espécie, era ver que todos os íntimos, os palacianos, tinham também a mesma "doençazinha", todos traziam no bolso do colete o seu frascozinho mentolado...
Tudo isso me causava uma impressão esquisita. Tudo era novo para mim: reuniões, passatempo em palácio e a nova modalidade de lisonjear. Aquela camaradagem, embora fosse democrática, chocava-me um pouco. Em São Paulo tudo era tão diferente: os homens do governo, já não digo o presidente, os secretários não eram vistos a pé nas ruas da cidade. Quem quisesse ver ou falar com um deles devia ir às respectivas Secretarias nos dias de audiências públicas.
Peço perdão pelo paralelo que acabo de fazer entre os costumes políticos do norte e do sul. Não tive o intuito de diminuir nenhuma das regiões. Para mim, a vida simples, sem artifícios, patriarcal que ainda se gozava nessas bandas, era o que podia haver de mais agradável. Vida de terra pequena em que todo o mundo