– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

(essa atividade comercial de trocas em espécie, ainda hoje tão, comum em Minas, terra de dinheiro sumido), prestamistas, onzeneiros, etc.), ou estabelecidos com seus "negócios", isto é, suas vendas, "logeas", armazéns e botequins, são os comerciantes "mayormente Pvos. de Portugal" - conforme os denuncia um documento da época, a página de um memorialista do Códice Costa Matoso (fls. 28) - "entre os quaes vierão m.tos q. sendo mais ardilosos pª. o negocio quizerão inventar contratos de vários generos pª. mais depreça e com menos trabalho encherem as medidas". Se a referência se aplica aos implacáveis contratadores dos tempos da Guerra dos Emboabas, nem por isso deixa ela de refletir a prevenção geral dos povos da terra contra os processos do comércio emboaba, ainda hoje tão viva em toda a parte, mãe que é ela dos nacionalismos, justos ou injustos. Várias vezes os comerciantes estarão deslocados nas devassas, da condição de testemunhas para a dos culpados, principalmente pronunciados como usurários.

Classe numerosa, se bem que menor que a dos agricultores e a dos comerciantes, é a dos mineradores. Nesses anos de fastígio, que marcarão quase dois quartéis de século no miolo setecentista, a classe dos mineradores viverá também a sua era de ouro. A nobreza da terra, os "homens-bons" da liderança municipal, os poderosos régulos das terras minerais, os ricos pais que irão mandar seus filhos a doutorar-se em Coimbra, bacharelar-se com os jesuítas no Rio de Janeiro ou ordenar-se em Mariana, serão pertencentes à classe mineradora. Nela, porém, logo se dividiriam dois grandes grupos, o dos proprietários das minas e o dos que "vivem de minerar", parecendo-nos estes gente assalariada, trabalhando a jornais ou garimpando aqui e ali. Os mineiros graúdos formarão o grosso das Irmandades principais, como as do Santíssimo Sacramento e de Nossa Senhora da Conceição, por exemplo, a cujas matrizes e capelas aquinhoarão regiamente.

O papel exercido pelos poucos funcionários públicos do Reino cinge-se à sua presença, igualmente restrita, em dois setores, ou melhor, em um só - o da arrecadação dos quintos - em que comparecem como fiscais da Real Fazenda ou como soldados para garantir a segurança... da arrecadação.

Naquela rude sociedade em elaboração, não se pode, em rigor, falar em classes ou profissões liberais. O padre, em virtude do regime da monarquia absoluta de direito divino, não passa de um funcionário régio, recebendo a sua côngrua ou os seus emolumentos e disputando, muitas vezes de âmbula na

– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).  - Página 24 - Thumb Visualização
Formato
Texto