– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

mão, os magros réis das conhecenças. Daí a frequência da deterioração de sua vocação sacerdotal - se é que a tiveram muitos daqueles pobres transviados das devassas - provocada pelo ouro, pela mulher, pela política ou até pela ciência, como acontecerá mais tarde, no Iluminismo pombalino. Contam-se pelos dedos das mãos os cirurgiões, os professores e os músicos existentes nas Minas. Pouco há a falar sobre os cirurgiões do tempo, pois não passavam muitas vezes de alveitares, ferradores de cavalos, sangradores ou aplicadores de sanguessugas, quando não eram aqueles pitorescos barbeiros, que iriam aparecer nas gravuras dos viajantes estrangeiros oitocentistas. Cirurgião aprovado, como Luís Gomes Ferreira, autor do precioso Erário Mineral, é exceção, como exceção foi a presença daquele outro cirurgião estrangeiro, João da Rosa, estimado do povo, que esteve nas Minas Gerais nas primeiras décadas do século setecentista.(13) Nota do Autor Aqueles dois professores, existentes em Sabará e no Curral dei Rei, prenunciam o nascente empenho de as famílias educarem os seus filhos, empenho que logo endossaria, ao assumir o seu bispado de Mariana, D. Frei Manuel da Cruz, criando o Seminário de Nossa Senhora da Boa Morte, em 1750, "cuja falta causava grande detrimento aos moradores". Missão de precursor teve igualmente aquele solitário Jozeph de Almeyda Ferraz, que vivia "de sua arte de muzica" no Curral dei Rei, em 1734(14), Nota do Autor arte essa que tanto se iria alcandorar na segunda metade do século, mercê de sua prática pelos geniais mestres do barroco musical mineiro.

Agora, vejamos os acusados das devassas e as suas "culpas". O comportamento cotidiano, íntimo, religioso, do povo mineiro dessa época revelará a importância maior da contribuição portuguesa e africana, e a bem menor do silvícola, na elaboração da raça nova e na formação de sua alma e do seu caráter. Aqui, no caso, iremos focar a vida cotidiana das Minas Gerais na década de 1730-1740, justamente o cotidiano moral e religioso, defluído inteiro dos depoimentos colhidos no Livro II das Devassas ou Visitas de 1733-1734.

Se o cotidiano religioso não oferece muita novidade, o mesmo não ocorre com a moralidade dos fregueses dos dias do Triunfo Eucarístico. O grande resvaladouro da frágil virtude daquelas gentes aventureiras é a geral mancebia, em que vivem quase todos os homens e mulheres disponíveis, inclusive sacerdotes.

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