Já a porcentagem dos cirurgiões, capitães-do-mato e padres concubinários é relativamente alta; é que a peculiaridade de suas profissões lhes facilita o acesso às mulheres. São, res pectivamente, dois, dois e quatro casos. A acusação contra os clérigos é "ter molher de porta adentro" e também de "filhos havidos dipois de Clerigo": é o clero dos primeiros decênios da colonização, vindo de fora, tantas vezes apenas interessado no ouro e nas coisas do mundo. No entanto, as grandes porcentagens das mancebias masculinas serão achadas nos agricultores, nos mineradores e nos negociantes.
Agora, os concubinatos femininos. Porque relativamente pouco numerosas, são poucos os casos de mancebias de mulheres solteiras brancas e viúvas (seis e um, respectivamente); estas devem ser ainda mais poucas, porque seriam logo procuradas para novos casamentos; mas avultam as "culpas" das mulheres casadas (dez casos), quase certamente pelo fato de as deixarem amiúde os maridos mineradores aventureiros, como, aliás, irá acontecer frequentemente nas devassas de 1763: já será comum no século XVIII os maridos portugueses saírem do lar, para a busca da fortuna ou da aventura (como acontece ainda nos dias de hoje, quando eles saem para a Alemanha, França, Bélgica ou Holanda, e lá se deixam ficar, muitas vezes se deixando engambelar pelas fáceis loiras arianas das grandes cidades industriais, que revelam - contou-nos o Sr. Chanceler do Consulado de Portugal, em Munique - um decidido dengue especial pelos morenos homens meridionais...). Eis que não serão raros, nas Minas, os casos curiosos de mulheres "hospedadas" pelos maridos ou amantes em recolhimentos de religiosas, principalmente no de Macaúbas, enquanto os maganões enfastiados e inquietos somem pelo mundo; é uma espécie de divórcio branco, a que se dão os sujeitos mais importantes, pois um dos praticantes do regime das mulheres em custódia será o Conde de Valadares, cavalheiro aliás solteiro e jovem. Surpreende não ser tão alta a incidência do amasio entre as negras escravas, solteiras ou casadas (sete e dois casos, respectivamente): não é nada prudente ir bulir em casa ou senzala alheia... Por isso mesmo é que são extremamente numerosas as "culpas" dos senhores que têm suas mancebas entre as próprias escravas: destas escravas próprias, vivem com seus donos 25 negras, 11 pardas, três crioulas, nove pretas-minas e duas mestiças, num total de 50 casos, perfazendo quase um quarto de todas as concubinagens. É uma verdadeira instituição a do serralho privado de cativas próprias... Por falar em pretas-minas, estas merecem uma referência