– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

especial: a negra-mina é a amásia mais procurada pelos brancos. Se os negros da mesma raça têm a tradição de serem "mais resolutos, fortes e temerários" - os minas serão, as mais das vezes, os vindicadores dos seus direitos espezinhados e os fundadores dos quilombos mais aguerridos - as mulheres são altas, de porte gentil e ardentes no amor, inteligentes, habilidosas, "e pela mesma razão não há mineiro que possa viver sem nenhuma negra-mina, dizendo que só com elas tem fortuna", como depõe, em 1730, o Governador do Rio de Janeiro Luís Vahia Monteiro, conforme lembra Oliveira Viana, na Evolução do Povo Brasileiro; de fato, nas devassas de 1733-1734, anotamos 19 pretas-minas, todas solteiras, concubinas, praticamente dez porcento das mulheres pronunciadas, sem recordar outras mais da mesma raça, certamente nem todas declaradas nos interrogatórios. Aquela crioulagem mais hígida e engenhosa, que viajantes e observadores encontrarão em Minas, superior aos pardos litorâneos do Rio de Janeiro, resultará desse bom sangue da Costa da Mina. As devassas irão denunciar já o grave problema do desajustamento social, cultural e religioso das pretas forras; as condições peculiares das Minas permitirão que ali haja uma certa facilidade em os cativos obterem sua liberdade, de que dá exemplo o grande número deles já forros nos tempos do Triunfo Eucarístico. É que o trabalho nas lavras do ouro fará do escravo um técnico, um especialista, motivo pelo qual ele conseguirá recursos com que se alforria a si, aos parentes: a lenda de Chico-rei somente terá guarida no ciclo do ouro mineiro. Há, pois, muito negro ou pardo forro nas devassas. E, também, negras e pardas forras. Mas, a liberdade só irá concorrer para o desajustamento delas, num ambiente em que o seu lugar não existe, a não ser como o remedium concupiscentiae do senhor branco. Eis porque é tão alto o índice das mancebas pretas forras no amasio; porque livres, caem todas as barreiras em torno delas e os brancos se lhes achegam sem qualquer dificuldade. Porque livres, enjeitam casar-se com os negros escravos, principalmente as pardas, que, já nascidas na terra, desprezam os negros africanos e, por sua vez, só são aceitas pelos brancos para companheiras de cama. Há, portanto, 49 pretas forras solteiras mancebas, uma casada, 25 pardas forras solteiras e 15 crioulas forras(15), Nota do Autor atingindo quase a metade de todos os concubinatos femininos. Já é bem reduzido o número dos concubinatos do elemento indígena feminino, geralmente classificado na terminologia das

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