– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).

nome de Negociantes tantos homens, que o não merecem? Elles podem servir mais utilmente ao Estado em outros Empregos, e a Capitania de Minas ficava livre destes individuos".(159) Nota do Autor

O grande drama da atividade comercial nas Minas Gerais será, pois, o da falta de dinheiro, de numerário. Mas, desde muito, quem mesmo sofre da falta absoluta de dinheiro, para as suas necessidades mais urgentes, é o próprio Governo da Capitania. Se ele aqui nunca sequer cogitou de ajudar o comércio - como aconteceu na administração do Marquês de Pombal, em Portugal - agora, nesses anos de vacas magras, mesmo que o quisesse, não seria capaz de nada. A queda vertiginosa da produção aurífera esvaziara completamente os cofres públicos. Os Governadores da Capitania viram-se obrigados a cortar despesas e, mesmo, certas dotações de recursos que, empregados, reverteriam ampliados para o Real Erário, como, por exemplo, a chamada "assistência" aos serviços de extração de diamantes, no Distrito Diamantino, reduzida de um milhão para 300 mil cruzados. Indício, aliás, dessa pobreza de recursos tinha sido a emissão, ali, a partir de 1771, dos "bilhetes de extração" - espécie de papel-moeda com que se atendia a certas despesas da extração diamantina - e, mais tarde, em 1803, outra circulação fiduciária - a dos "bilhetes de permuta" - que tinha a finalidade de recolher às casas de fundição o ouro em pó, mediante a permuta por esses bilhetes, em Vila Rica, Sabará, no Serro Frio e em São João del Rei. Esses bilhetes, tanto os de extração como os de permuta, foram, ao menos em suas origens, certificados de reembolso pontual e chegaram a ser recebidos pelo próprio fisco para quitação de impostos. Mas, no agravar da crise, acabaram sendo tidos pelo governo como verdadeiros títulos de empréstimos, que, permanecendo mais e mais sem a devida reposição metálica, foram sendo lastreados pelo acervo geral do ativo das administrações contra as quais eram sacados: ficaram, enfim, simples papel-moeda, a desvalorizar sempre, crescendo mais e mais, afogando o povo numa maré montante de papeluchos sujos e garranchentos, sem nem mesmo poderem circular também para fora das fronteiras da Capitania. Spix e Martius puderam contemplar, confrangidos, esse dilúvio de nova espécie: "(...) a vista entristece o viajante penosamente" - escreveram - "pois na antiga terra onde se via tirar ouro, só se veem agora papel-moeda e miséria, em vez do metal precioso"...(160) Nota do Autor Quase cômico é que mesmo

– Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. (Notas sobre a cultura da decadência mineira setecentista).  - Página 292 - Thumb Visualização
Formato
Texto