Viagem ao Tocantins

Talvez o único caráter nacional que possuímos é a ausência de rigidez afetiva. A "amizade" é tudo para nós, entra em todos os setores de nossa atividade. E isso devemos, possivelmente, ao desleixo com que o colonizador nos tratou.

Parece-nos que, para sermos cidadãos do mundo futuro, esse caráter é vantajoso. E, então, agradeceremos ao português por nos ter deixado como barro informe...

O material humano que se despejou da África no sertão satisfez-se com a vida de "engorda" na selva brasileira, menos agressiva que a africana. Os negros, embora escravos sentiram-se "livres" num território onde o açoite lhes era suave em comparação com a morte que lhes davam as tribos guerreiras do continente de onde provinham. A revolta de grupos - os quilombos e "os Palmares" - violentamente abafada pelos seus exploradores, pouco repercutiu na massa. As atitudes antiescravagistas de seus irmãos de raça ou daqueles que se guiavam por princípios opostos da mentalidade escravocrata do Governo, os acontecimentos internacionais que impeliram a abolição soaram ao ouvido do negro como uma dádiva da Princesa branca.

Os índios nada mais queriam que a vida indolente e vagueante a que estavam acostumados; reagiram sempre contra outro modo de viver que se lhes tentou inculcar. Jamais foram escravos, sempre prisioneiros de guerra ou da catequese.

As casas-grandes do açúcar, cheias de sexo e costumes africanos, de alimento preparado por escravos, deram aos seus senhores, nos séculos XVIII e XIX, um bem-estar físico que lhes despertou o desprezo ou hostilidades pelos brancos

e mestiços

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