Viagem ao Tocantins

roubava era ninharia e se arriscava às torturas, devido à delação comum entre eles.

As praias limitadas por altas serras, que escondiam as selvas do interior, chegaram inicialmente burocratas tímidos, os quais choravam as aldeias de onde vinham, o "seu rico Portugal", e latagões de pesadas armaduras e escaldantes viseiras que compunham os submissos exércitos medievais da Europa do século XVI. Traziam a mentalidade formalística e escolástica, que só compreendia o mundo sob a rigidez dos princípios de uma Igreja internacional que dominava as nações ocidentais como se fossem uma família aterrorizada pela ideia do inferno e outras fatuidades. Desembarcavam sem entender o novo mundo que se abria aos seus olhos. Enchiam de melodias tristes os ares que bandos alegres de periquitos e de araras espalhafatosas cortavam em todos os rumos. Continuavam acorrentados aos métodos de servilismo e de parcimônia num novo habitat, cuja natureza exibia irreverência e largueza. Amontoavam-se em casinholas e ruelas estreitas de beira-mar, não para se defenderem do clima ensolarado, pois não tinham noções dessas proteções, mas devido ao costume imposto pelo regime social do país de onde provinham.

À medida que as atividades da Colônia cresciam e outras terras do Oriente exigiam maior número de burocratas, a Metrópole permitiu que exilados voluntários e degredados viessem para o Brasil. Estes traziam qualidades que melhor se coadunavam com as das terras virgens. Não pertenciam à casta dos servis, não dependiam dos salários da Metrópole, não choravam como os outros "o seu rico Portugal", onde a sorte lhes fora adversa,

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