Um jornalista do Império

menos de 297 periódicos, a maioria de vida efêmera. Chulos, gaiatos, raros bons, todos engolfados em polêmicas. Oscilando a gangorra do poder ora para um, ora para outro dos dois partidos alternadamente no Governo, as guinadas da imprensa acompanhavam a pêndula. Diferindo pouco o conteúdo ideológico, as medidas por um tomadas, quando no poder, eram idênticas às do outro. O jornal oposicionista atacava o que antes defendera como ministerialista. E este sufragava, como oposicionista, o que invectivara quando no poder. A confusão espalhava-se, fumegando. Examinavam-se detidamente as atitudes pessoais de cada figurante da peça, viravam-nas do avesso, e desabavam artigos de quatro colunas. Repositórios de diálogos, as gazetas resvalavam para o doesto e a verrina.

Todo político de projeção possuía sua folha. Pela importância adquirida desde os pródromos da Independência, a imprensa constituía arma necessária à disputa do poder. Formava-se a opinião não tanto pelos debates parlamentares, como pela discussão na imprensa, que, ampliando ideias e explorando as divergências entre os graudões, mantinha aceso o fogo da paixão partidária. Gabinetes caíam menos em consequência das lutas travadas no Parlamento do que pelas campanhas dos jornais.

Destabocada, sem medida, elevando a descompostura à categoria de sistema, surgiam, todavia, artigos de boa doutrina. Poucos anos de vida política como Nação livre, regime constitucional liberal praticamente anulado pela vontade autocrática do príncipe que o outorgou, as constantes perturbações da ordem, pondo em risco a unidade do Império após a abdicação de D. Pedro I, exigiam doutrinação para aperfeiçoamento do sistema administrativo. Apesar dos excessos, a imprensa

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