vinte anos que ele governava com sabedoria e juízo o Império Celeste e seu reinado era dos mais gloriosos de todos os tempos. Mas Wu Ti era muito supersticioso e acreditava nas artes mágicas. Quando morreu a dançarina, ele voltou-se no seu desespero para o mágico da corte, exigindo que fizesse voltar a linda defunta do país das sombras. Ameaçado de pena de morte, o mágico não perdeu a cabeça e soube usá-la, como também das mãos, adestradas por longo treino de peloticas e prestidigitações. Numa pele de peixe, cuidadosamente preparada para torná-la macia e transparente, recortou a silhueta da dançarina, tão linda e graciosa como ela fora. Numa varanda do palácio imperial, fechada dos lados e coberta por cima, mandou esticar uma cortina branca em frente a um campo aberto. Com o imperador e a corte reunida na varanda e à luz do meio-dia que se filtrava através da cortina, ele fez evoluir a sombra da dançarina, ao som de uma flauta, e todos ficaram alucinados com a semelhança. O mágico recebeu um rico presente e desde então o teatro de sombras ficou sendo passatempo predileto dos fidalgos chineses e, mais tarde, do povo.
Embora seja lógico supor que o mais antigo teatro de figuras tenha sido o de sombras, nada existe de positivo a respeito e, apesar desse tipo de espetáculo ter o nome de "sombras chinesas", nada nos autoriza a garantir que tenha partido da China, pois não existe nenhum documento a respeito. Foram populares nesse país no século XI e somente mais tarde apareceram em outros países. É o que se sabe. Indiscutivelmente, porém, pelo seu modo de animação as sombras pertencem à história das marionetes e vale a pena sabermos mais alguma coisa a seu respeito.
Se as sombras da China possuem um caráter restrito de divertimento, as de Java têm um caráter religioso, não existindo mesmo sob o aspecto puramente comercial. Em quase todas as casas - ricas ou pobres - há um lugar destinado ao Dalang(6) Nota do Autor, onde ele poderá instalar sua tela.