Fisionomia e espírito do mamulengo

Já na Turquia as sombras adquirem um caráter exclusivamente diversional, utilizando-se de um tipo popularíssimo do teatro de bonecos: Karagós. E é precisamente desse tipo que surge uma lenda que tenta também explicar a origem do teatro de sombras. Karagós tinha um companheiro: Hacivad. Um era pedreiro e o outro, ferreiro. Viveram em Bursa no século XVI. Empregados na construção de uma mesquita distraíam seus companheiros contando histórias alegres. Mas isto prejudicava o trabalho e o sultão mandou cortar-lhes a cabeça. Para descanso do suserano que o remorso logo perseguiu, um certo Seyh Kusten fez reviver num teatro de sombras Karagós e Hacivad(7) Nota do Autor.

Embora os bonecos sejam tão antigos quanto os homens, pode-se dizer que no período primitivo existia apenas "o boneco inconsciente", no sentido do espetáculo. Sabe-se que desde a mais remota antiguidade os egípcios possuíam estátuas animadas nos templos, sendo que por ocasião das festas dedicadas a Osíris as mulheres participavam das procissões conduzindo falos mecânicos. A estatuária animada representou, por exemplo, acontecimentos em torno de Osíris. No primeiro quadro via-se Ísis chegar, lamentando-se pela morte de Osíris; o segundo quadro figurava um barco e Ísis à procura do corpo do marido que deveria ter sido jogado ao Nilo; terceiro quadro: mais lamentações, o corpo encontrado e ressurreição de Osíris. Estamos, sem nenhuma dúvida, diante da origem religiosa do teatro de bonecos, muito aproximado, por sinal, dos espetáculos litúrgicos medievais, inclusive com o tema da ressurreição. Ainda neste século, foi encontrado no Egito um teatro de marionetes, com as figuras esculpidas em marfim.

Vestígios de um teatro de bonecos podem ser encontrados na Índia no século XI antes de nossa era, com a figura importante do sutradhara, isto é, o homem que puxa o fio. O texto das peças era improvisado, também com caráter religioso. Rapidamente evoluiu para um tipo de teatro popular, onde o personagem principal era Vidouchaka, um brâmane, anão,

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