corcunda, com enormes dentes, olhos amarelos e completamente calvo. É ridículo por suas expressões, suas vestes e sobretudo por sua glutonaria. Concupiscente e lúbrico, brincalhão e grosseiro, bate em todo mundo, fala a linguagem popular, o prácrito, em vez de empregar o sânscrito, que é a linguagem dos brâmanes. Vidouchaka é o pai dos Karagoses, dos Polichinelos, dos Punchs, dos Guignols, dos Fantoccini, dos Beneditos, dos Joões-Redondos do mundo inteiro. É o primeiro personagem integral do teatro de bonecos.
Atualmente, na Índia, o manipulador de fantoches ou putti-wallah é figura muito conhecida, sendo encontrado em festas como a de Dussehra, a de Diwali e por volta do Natal. O titeriteiro indiano costuma ir de casa em casa levando os bonecos e marcando espetáculos. Encontra grande receptividade, pois os fantoches representam na Índia uma ocupação tradicional; a arte de fazê-los e movimentá-los passa de geração a geração. Cada geração embeleza as histórias ouvidas da anterior, dando-lhes maior interesse emocional.
Geralmente o putti-wallah improvisa seu palco, amarrando, por exemplo, as cortinas entre duas paredes ou no vão de uma porta. A pessoa que conta a história é geralmente o filho mais novo ou a esposa do artista. Ele dá um sinal de tambor para indicar que vai começar. As preliminares às vezes são um pouco demoradas. Os fantoches aparecem vestidos em cores berrantes, geralmente em trajes típicos. A introdução, que pode demorar de dez minutos a uma hora, é cantada docemente ao som do tabla, instrumento indiano. À medida que, na introdução, o titeriteiro vai apresentando os personagens, a plateia vaia os maus ou ri dos cômicos. Quando a peça propriamente dita começa, não há muita novidade de enredo. Todos já sabem as histórias. O que varia é a maneira de apresentá-las, os detalhes, a técnica do titeriteiro. Os enredos versam geralmente sobre os príncipes de Rajasthan. O heroísmo, as intrigas da corte, as batalhas sangrentas, onde matam crocodilos ou tigres, arrancam das crianças gritos de emoção. A peça termina com alguma tocante reconciliação ou a visão do campo de batalha cheio de cadáveres ensanguentados. Os maus perecem, os bons sobrevivem.