Fisionomia e espírito do mamulengo

um vigilante da noite, daqueles que batem com sua alabarda para advertir o público que estalou algum incêndio no quarteirão.

"- E como ainda estás aí a essa hora do dia?

"- Sou um infeliz pecador... Embora seja um bom muçulmano, deixei-me levar ao cabaré pelos malandros. Então, não sei como, deixaram-me morto de bêbado aqui nesta praça. Que Maomé me perdoe por ter infringido suas prescrições.

"- Pobre homem... Deves estar doente... Entra em minha casa e poderás repousar.

"E a dama procura pegar na mão de Karagós em sinal de hospitalidade.

"- Não me toque, Hanoum! exclama ele com terror... Eu estou impuro. Não poderia entrar numa honesta casa muçulmana. Estou profanado pelo contato de um cão.

"Para compreender essa suposição heroica, que eleva a delicadeza ameaçada de Karagós, é preciso saber que os turcos, embora respeitando a vida dos cães, e mesmo alimentando-os, por meio de fundações piedosas, acham que é uma impureza tocá-los ou ser tocados por eles.

"- Como aconteceu isso? pergunta a dama.

"- O céu puniu-me justamente: eu tinha comido uvas cristalizadas durante a espantosa orgia da noite passada e, quando me acordei, na via pública, senti com horror que um cão lambia minha cara... Eis a verdade e que Alá me perdoe!

"De todas as suposições de que se vale Karagós para afastar os avanços da mulher do seu amigo essa parece ser a vitoriosa.

"- Pobre homem! disse ela com compaixão, ninguém poderá tocar-te antes de teres feito cinco abluções de um quarto de hora cada uma, recitando os versículos do Alcorão. Vai à fonte e que eu te encontre aqui quando voltar do banho.

"- Como as mulheres de Istambul são descaradas! exclama Karagós ao ficar só. Sob esse véu que oculta seu rosto adquirem mais audácia para insultar o pudor das pessoas

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