Fisionomia e espírito do mamulengo

honestas. Não, não me deixarei levar por esses artifícios, por essa voz melosa, esse olho que brilha pelas aberturas de sua máscara de gaze. Por que a polícia não obriga essas desavergonhadas a cobrir os olhos?"

Seria muito longo descrever as outras desgraças de Karagós. O cômico da cena consiste sempre nesta situação da guarda de uma mulher confiada ao ser que parece a mais completa antítese daqueles aos quais os turcos concedem comumente sua confiança. A dama sai do banho, encontra novamente em seu posto o infeliz guardião de sua virtude que diversos contratempos retiveram no mesmo lugar. Mas ela não pôde deixar de falar às outras mulheres que se encontravam no banho do desconhecido tão belo e tão bem feito que encontrara na rua. De sorte que uma multidão de banhistas segue os passos de nossa amiga. Pode-se imaginar o embaraço de Karagós preso dessas novas ameaças. A mulher do seu amigo rasga as roupas, arranca os cabelos, lança mão de todos os meios para combater seu rigor. Ele vai sucumbir... De repente passa uma carruagem que separa a multidão. É o coche de um embaixador, ao antigo gosto francês. Karagós atira-se a essa oportunidade, suplica ao embaixador francês que o tome sob sua proteção, que o deixe subir na carruagem para poder escapar às tentações que o assaltam. O embaixador desce, usa um traje muito elegante: chapéu de três bicos colocado numa imensa peruca, casaca e colete bordados, calções, espada dourada. Declara às damas que Karagós está sob sua proteção, que é seu melhor amigo... (Este último abraça-o com efusão e apressa-se a subir na carruagem que desaparece, levando o sonho das pobres banhistas). O marido volta e aplaude ao saber que a castidade de Karagós lhe conservou uma mulher pura.

"É o triunfo da amizade".

Um escritor turco, no entanto, Esat Sivavusgil, insurge-se contra esse espírito obsceno do teatro de sombras e explica:

"À parte alguns espíritos que não se acomodam facilmente aos lugares-comuns, a maior parte dos viajantes deixam-se docilmente levar por seus cicerones levantinos que, espumando

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